As dificuldades da direção para dublagem, com o diretor André Rinaldi

 Entre os trabalhos em volta da dublagem, o trabalho da direção é um dos mais importantes, mas muitos não entendem a importância deste trabalho, portanto, resolvi escrevi esse artigo pra ajudar a entender melhor.



A direção é um trabalho difícil e complexo, e precisa de muita dedicação e esforço, e para explicar as situações em volta desse trabalho, decidi chamar um dos diretores mais gostados pela nossa comunidade,

O diretor André Rinaldi irá nos ajudar a entender as dificuldades da direção de dublagem, para que possamos pensar melhor na hora de criticar o trabalho que foi feito.


André aceitou responder algumas perguntas que irão nos ajudar a entender melhor sobre o assunto, além de expressar algumas de suas opiniões.



1. Qual o trabalho do diretor de Dublagem? 


Basicamente, é auxiliar os dubladores nas intenções e sincronismos das falas deles.

E garantir que todos os personagens estejam na mesma "vibração".

Pra isso, ele deve conhecer o produto que está sendo dublado, pra poder explicar e passar pros Atores o pano de fundo dos acontecimentos de cada cena. Com relação ao sincronismo, esse trabalho é feito em conjunto com o técnico de captação, que vai

usando seu conhecimento do equipamento para colocar as falas nos lugares corretos.


2. Qual a parte mais difícil de exercer esse trabalho?


Pra mim, a escalação do elenco. Tenho algumas regras pessoais que gosto de manter, como a não-repetição de elencos principais, que me mantém alerta para novas vozes, mas que, em alguns casos, tornam-se um desafio pra pensar quem vai fazer cada personagem. Porque não gosto de repetir, mas as vozes precisam combinar com as personagens.


3. Até que ponto o diretor tem liberdade de mudar o texto?


Depende. A liberdade de adaptação pra garantir um sincronismo ou uma melhor compreensão da frase, total! Mas também existem casos onde determinados nomes ou termos não podem ser alterados por exigência do cliente. Tudo isso é explicado antes e durante o processo do trabalho. Tudo depende da relação com o cliente e de como o material original chega para o estúdio.


4. Que critérios você usa na hora de escolher o elenco?


Depende de cada caso. Eu não gosto de repetir quem faz o elenco principal de um trabalho. Trago isso do meu lado fã que também reclamou de ouvir "sempre as mesmas vozes". Temos um mercado enorme e, com o remoto, ainda mais. Temos muitas opções de vozes.

Pesquiso pra saber quem já dublou aquele artista em outros trabalhos (seja animação ou live-action), mas isso não se torna uma obrigação de manter a mesma pessoa. É apenas um ponto de partida.


5. Você prefere escolher vozes mais próximas do original ou escalar pela aparência?


Também depende. Seguir a voz original tem sido uma indicação de diversos clientes, mas podem acontecer casos onde a voz original se torna estranha à nossa cultura e uma adequação precisa ser pensada e conversada com o cliente (a palavra final é sempre deles).


6. Você costuma pesquisar muito sobre os trabalhos que dirige?


O máximo possível. Atualmente venho fazendo muito anime, e sempre procuro os mangás pra ler pra já me preparar sobre o que virá, principalmente nos simuldubs, onde recebemos os episódios após o lançamento. Mas já fiz outras produções onde tive que ir buscar outras informações tb. A pesquisa sobre o assunto que trata o produto é essencial. Não dá pra dirigir um reality sobre carros sem saber um pouco sobre mecânica e outras coisas, senão o diretor fica "rendido".


7. Você em geral prefere dirigir obras mais sérias ou mais engraçadas?


Obras engraçadas são sempre mais divertidas. O processo se torna mais leve. Mas obras mais sérias nos levam a pensar sobre algum assunto, e acredito que essa é a essência da arte. Nos fazer pensar. Então gosto quando tenho algum trabalho mais sério, ou que mexe mais com emoções mais densas.


8. Qual sua opinião sobre encaixar piadas e gírias nacionais no texto?


Gosto, desde que seja apropriado para a cena, e não de "forma gratuita". Também não pode "datar" o produto. Qualquer gíria ou expressão tem que ser muito bem pensada para não atrapalhar a obra.

Piadas precisam ser adaptadas o máximo possível. Existem piadas idiomáticas que, na maioria das vezes, se perdem nas traduções, mas precisam ser adaptadas da melhor forma. Por isso, o trabalho de um bom tradutor, que pensa sua tradução para um trabalho de Dublagem, é essencial.


9. Alguma vez você já sentiu que um trabalho seria especialmente difícil de dirigir?


Pensei um pouco isso quando dirigi Overlord. Mas não por um desafio de Direção em sí, mas pela escalação (spoilers à frente).

A série é maravilhosa e eu adoro jogos e RPG, então essa parte foi tranquila, mas os personagens de Apoio duravam 2 ou 3 episódios e morriam, e um novo elenco se formava. E eu ficava me perguntando "quem eu chamo agora?". Mas deu tudo certo e todo o elenco trabalhou muito bem.


10. O que você acha sobre sair do eixo Rio-SP e abranger dubladores de outros estados?


Maravilhoso. Quem acompanha minhas direções sabe que essa limitação geográfica não é um problema. O Brasil é muito grande e muito plural. Não tem pq eu achar que só esse ou aquele jeito de falar é o certo. 

E mesmo no Eixo temos muitas pessoas de outros estados, então eles sempre estiveram na nossa dublagem. 

Isso tb nos permite um pensamento mais artístico na hora da escalação.


11. Você já virou fã de alguma obra que dirigiu?


Todas! Pq a gente vai se apegando à história e aos personagens. Acho que, a hora que eu não virar fã daquilo que estou fazendo, seja dirigindo ou dublando, é pq alguma coisa está errada.




Como podemos observar com as respostas, a direção não é um trabalho fácil de se exercer, exige muita observação e pesquisa, além de um grande conhecimento sobre o mercado da dublagem.

Lembrando que, esse artigo de forma alguma é uma forma de dizer que você não pode opinar sobre ou criticar um trabalho de direção, apenas entender que não é algo tão fácil quanto parece, e assim, compreender melhor o que os profissionais passam no momento de produzir a dublagem que um dia vai chegar na tela e você assistir.

Espero que essa pequena passada te faça entender melhor o lado do outro antes de sair falando sem pensar. 

Postar um comentário

Postagem Anterior Próxima Postagem