Sindicato de atores dos EUA anuncia acordo que permite uso de IA em vozes para jogos

Nesta terça feira (09/01), o SAG-AFTRA (Sindicato de Atores de Cinema e a Federação Americana de Artistas de Televisão e Rádio) anunciou no CES 2024 (evento de tecnologia em Las Vegas) o estabelecimento de um acordo com o estúdio especializado em tecnologia de vozes e inteligência artificial, Replica Studio, que permite aos estúdios de jogos a utilização de vozes replicadas por IA
 
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Apresentado pelo sindicato no Twitter/X como um "acordo revolucionário",  essa decisão permite que desenvolvedores de jogos "acessem os melhores talentos do SAG-AFTRA" e que atores "explorem, de maneira segura, novas oportunidades de empregos para suas réplicas digitais de voz com as melhores proteções da indústria". O acordo define termos e condições para o uso de vozes geradas por IA e requer que atores de voz deem o consentimento para o uso de suas vozes e negociem outros termos de uso quando trabalharem com o estúdio.
 
Em um artigo publicado pelo sindicato que trazia mais informações a respeito do acordo - o qual não está mais disponível online -, era apresentado que a decisão foi "aprovada por membros da comunidade de atores de voz do sindicato". Entretanto, logo após a divulgação do acordo, diversos atores de voz dos EUA se posicionaram nas redes sociais contra a decisão, afirmando que eles não haviam sido consultados pelo sindicato. 
 
Elias Toufexis - Sam Coe em Starfield e Adam Jensen em Deus Ex: Human Revolution - escreveu em sua conta no Twitter sobre o assunto: "Eu, humildemente, me consideraria um dos principais atores de voz que trabalha em jogos. Ninguém me perguntou sobre isso. Ninguém me contatou para pedir a minha opinião. E pelo o que eu estou vendo, tampouco perguntaram para os meus colegas". Steve Blum - Spike Spiegel em Cowboy Bebop e Orochimaru na série de jogos Naruto: Ultimate Ninja - também expressou seu descontentamento em resposta ao SAG.
 
Devido aos comentários negativos feitos por diversos atores de voz junto à comunidade de jogos, não é possível afirmar se o acordo entre o sindicato e o Replica Studio continuará vigente. Por mais que a decisão inclua a aprovação dos atores como um requisito para a replicação de voz por IA, tudo indica que muitos atores relevantes na indústria não foram consultados para o estabelecimento desse acordo que pode afetar diretamente seus empregos. Além disso, esse acordo pode abrir portas para outras decisões que afetarão o mercado de dublagem, trazendo mais das mecânicas de inteligência artificial para as produções, entregando resultados inferiores aos de profissionais especializados e ameaçando uma profissão que emprega milhares de pessoas pelo mundo.
 
Aproveitamos o tema para expressar que a WDN é contra qualquer tipo de uso de inteligência artificial em dublagens. O mercado brasileiro de dublagem é formado por centenas de profissionais com ricas experiências que os capacitam para entregar um trabalho de qualidade. Utilizar ferramentas de IA significa ignorar anos de conhecimento que esses profissionais construíram a partir da paixão que possuem pela arte da dublagem e ameaçar seus empregos e daqueles que ainda estão se capacitando para entrar no mercado - tudo isso apenas para maximizar lucros enquanto o produto final tem sua qualidade prejudicada. Assim, é importante para todos - tanto para os dubladores quanto para o consumidor final - que nos posicionemos sempre a favor destes profissionais, visando um processo justo, humano e criativo na dublagem, e que qualquer decisão que seja tomada em relação à IA nesse mercado tenha o respaldo dos profissionais que serão diretamente afetados por tal decisão.
 

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